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   Eu nasci em uma família humana gloriosamente desordenada, conectada por vastas distâncias; pai francês, mãe estadunidense, avó tão única que chegava a ser alien. Uma teia imensa de parentes. Irmãs, irmão. Pessoas cujas provações e viagens me moldaram. Passei copiosa parte da minha infância transitando de um território a outro, uma façanha tornada possível por estes indivíduos; seu suor, sua raiva, seu amor.  

​   Aos nove anos de idade mudei com a minha família para o lugar que, ao meu ver, era um planeta extraterreste; uma selva quente e úmida de desconhecidos e indesejados - Brasil. Um lugar que aprendi a amar apesar de, ou talvez por causa de, suas falhas violentas e pulsantes. Parecidas com as de minha família. Parecidas comigo.  

​   Através das muitas rachaduras, esmagamentos e rupturas que têm sido minha vida, eu vim a conhecer em mim mesmo uma vivacidade profunda e pulsante que me choca, me faz reverente, me aterroriza e me inspira. Não sou capaz de não me expressar - se não eu implodiria e explodiria. 

​   Me senti como um alien todo esse tempo; me senti 'outro'. Como se minha humanidade fosse uma maldição, um castigo; minhas emoções violentas uma falha a ser odiada. Isso ainda me afoga às vezes, mas passei a me enxergar através das frestas em minha pele, a me encontrar através das fissuras no meu cérebro. E nessa descoberta, passei a me ver refletido nos outros. Em toda a vivacidade. E é lindo.

 

    Então, se ao expressar e compartilhar a minha bagunça e o meu caos eu puder refletir uma pessoa de volta para si mesma, e ela, assim, acabar por conseguir encontrar sua própria beleza através da minha, sua própria dor e alegria e mágoa e amor vistos e valorizados, minha jornada será ainda mais valiosa. Esta conexão me salvou. Espero passar adiante. 

Artista aquarela

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